“SEME”
2022
Ponto de visitação nº 1
Cabeço do Peão, Figueiró dos Vinhos
39.90867º, -8.27619º
Sinopse
“A floresta é uma grande alma, silenciosa e imóvel.
As raízes escondidas vibram de prazer e dor e falam umas com as outras numa linguagem íntima, viva e extraordinariamente mais rica do que a humana.
Devemos entrar com ponderação, audição, como num santuário. Com passos leves e olhos afetuosos.
O que uma floresta pode fazer senão permanecer imóvel, abrigar, ouvir e conservar silêncios mais prenhes do que mil palavras?
Uma floresta é o lugar onde o movimento pode encontrar paz, a voz pode descansar e a Memória se torna vida novamente.”
Chandra Candiani, “Dobbiamo salvare le ferite” em “Questo immenso non sapere”
Biografia
Nascido e criado em Armstrong, uma pequena vila na província de Santa Fé, recapitulando o mundo à sua maneira, o argentino Francisco Bosoletti (n. 1988, Armstrong) tem um olhar límpido e primordial da vida, natureza e humanidade.
A sua arte, que também carrega os traços de uma classicidade universal, é particularmente influenciada pelo Barroco Napolitano e pelo Renascimento Florentino e manifesta-se de maneira semelhante à mistura de genes que nutrem a pele dos imigrantes. Um detalhe, como uma flor ou uma corda, pode ocultar um significado inesperado. Um rosto e um corpo, presos de maneira efémera, podem revelar uma dimensão escondida e melancólica da existência e tornar-se um convite para estar presente na sua própria vida, livre de condicionamentos externos.
Bosoletti pinta as suas paredes respeitando a memória dos locais e das pessoas que os habitam. A sua intervenção acompanha a do tempo decorrido, ocultando e revelando ao mesmo tempo visões que parecem persistir num presente eterno e lembram ao homem a transitoriedade da existência. A sua pintura força o espectador a olhar de maneira diferente, refinando a sua sensibilidade e recorrendo a modelos percetivos diferentes dos habituais.
Os olhos entorpecidos são forçados a agir para capturar as suas imagens recém-reveladas, os recetores quase saturados de visões gritadas abaixo do limiar da consciência, descobrem de repente figuras que emergem do fundo e despertam uma nova, subtil e poderosa maneira de perceção. Essas aparições cruzam os limites dos sentidos e tocam as profundezas de quem olha, misturando-se com suas emoções e memórias como pinceladas na tela e nas paredes.